dezembro 12, 2014

A crescente complexidade do universo artístico tem atuado para um distanciamento cada vez maior do público com arte contemporânea. Porém, não é culpa da arte ou dos artísticas que este fenômeno esteja ocorrendo, mas sim de uma incapacidade das instituições formadoras em fornecer ao público as ferramentas propícias para uma apreciação adequada do objeto artístico.

Não obstante, há um movimento também crescente de democratização dos ambientes artísticos. Fenômeno complexo que ao mesmo tempo serve de manutenção do valor agregado aos objetos de colecionadores e como espaço de legitimação social da arte, mas que termina por permitir o acesso outrora negado (vide o Parangolé de Oiticica) as populações marginalizadas. Contudo, não podemos ser ingênuos quanto este movimento.

Tal democratização é sim um fenômeno mediado por inúmeros dispositivos que selecionam cuidadosamente os tipos sociais que poderão acessar o interior das exposições e locais de produção artística. O movimento de democratização da arte é sempre permeado por uma negligência das dificuldades de acesso de uns e por uma forte estrutura de segurança que visa acima de tudo garantir a manutenção do espaço de arte como espaço privilegiado para outros.

É neste cruzamento complexo de interesses e pressões sociais que surgem os educativos de museu. Corpos de ação que tem o objetivo de prover o acesso intelectual aos objetos artísticos para público geral, assim como o de garantir uma constante circulação nos espaços museologicos como forma de legitimação dos gastos públicos investidos nestes espaços, além de atração da patrocinadores privados e fortalecimento do valor social e consequentemente de mercado dos objetos artísticos.

Instalado em meio a esta massa amorfa de interesses, os educativos de museu são freqüentemente negligenciados, desvalorizados, quando não mal preparados para sua função. Pois, sendo o principal ator da democratização destes locais, tais espaços ainda não conseguem esconder a sua antipatia frente ao grande e diversificado público que pode ter interesse em percorrer os seus saguões.

Observa-se como resultado deste processo, uma grande carência de fundamentação teórica para embasar as atividades educativas no país. Utiliza-se com freqüência um grande número de textos das mais diversas áreas para garantir uma imagem de ancoramento teórico destas atividades, porém uma análise mais cuidadosa do uso destas referências deixará claro que não há apenas a falta de qualquer ancoramento, mas pelo contrário. Os educativos vagam quase que sem direção em suas práticas cotidianas. Tais ausências acabam por dar espaços a práticas irregulares, sem um foco específico que consiga cumprir uma função pedagógica profunda em nossa sociedade.

Para cumprir tal ambição e para que os educativos consigam emergir destes redemoinhos de interesse sem perder a chance de prover uma maior qualidade de acesso aqueles que estão chegando as portas dos museus, faz-se necessário que se preencham algumas lacunas. Para isso, é preciso que se respondam algumas questões cruciais, como: Qual o tipo de público o educador deseja formar? O que é fruição estética e como um educador pode auxiliar no desenvolvimento de uma fruição? Como prover instrumentos para uma avaliação autônoma e critica da obra?

A partir de tais respostas, será possível formular um campo de práticas que tenham maior efeito de democratização do acesso e que possam intervir como formadores de público, para que este público necessite cada vez menos do educador e tenha consigo uma amplo leque de ferramentas de avaliação, análise e crítica dos valores estéticos.

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